sexta-feira, 1 de março de 2024

Em Rota de Colisão (Stuck) - 2007

Sinopse: mendigo preso no para brisa de carro

Direção: Stuart Gordon 

Elenco: Mena Suvari
Stephen Rea
Russell Hornsby
Rukiya Bernard
Carolyn Purdy-Gordon











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Comentário: O último do mestre Stuart Gordon está bem longe da nojeirada que o consolidou, mas o que diferencia esse suspense fuleiro é, justamente, sua bagagem do body horror, que "eleva" (mas não muito) o que seria, na mão de qualquer outra pessoa, um Supercine esquecível. A trama baseada em fatos reais é isso aí mesmo, o mendigo fica preso no para brisa de uma cracuda - como está maravilhosamente ilustrado nesse cartaz digno de caixa de dvd de balaio das Americanas -, e a história se desenvolve como uma espécie de filme de sobrevivência (da perspectiva do mendigo, Stephen Rea, ator de filmes muito melhores, que entrega tudo de si) e uma comédia de erros sem graça (da perspectiva da cracuda e seu namorado tentando sem sucesso resolver a situação enquanto os dias passam). A mão do Gordon, contudo, é sentida especificamente nos momentos em que é detalhado o estado fisiológico da vítima, momentos pontuais que dão um tempero especial por serem dolorosamente gráficos (em uma cena particularmente chocante o coitado tenta tirar o um pedaço de carro que perfura seu abdômen, com resultados porcos). É um filme que não funciona plenamente em nada do que se propõe, mas que é assombroso o suficiente para ser uma despedida digna do Gordon.

Aproveitando o ensejo, fica aqui a recomendação também de outro da fase tardia do Gordon, "Edmond", sobre a jornada de empoderamento de um bolsonarista retardado (pleonasmo) cuja conclusão lógica se reflete também na vida real.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

The Appointment - 1982


Sinopse
: Cortando caminho por um bosque enquanto volta para casa, uma garota é abduzida por uma força malígna invisível. Três anos mais tarde, outra menina e sua família são afetadas pela mesma força – primeiro em sonhos que soam como premonições, depois de maneiras assustadoramente reais.


Direção: Lindsey C. Vickers

Elenco: Edward Woodward, Jane Merrow, Samantha Weysom







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Torrent + Legenda (exclusiva de novo)


Comentário: A cena inicial é surpreendente. Do tipo que inevitavelmente você já se pega perguntando o que teria levado esse filme a ser tão obscuro. O transcorrer, no entanto, justifica: sutil demais para ter o mínimo de apelo para fãs retardados do cinema de horror. E quando digo sutil demais, não estou sendo generoso, vai por mim, talvez esse seja o filme de terror mais sutil da história do cinema.
Trata-se de mais um daqueles atmosféricos, como um interminável sonho febril. Muitas vezes, e aqui está um ponto negativo bem considerável, as cenas de suspense duram até demais, alguns bons segundos excessivamente esticadas. E não dá nem para questionar "porra, cadê o editor pra cortar isso?", porque se percebe que a direção tem muita, muita personalidade, o que torna a dilatação dessas cenas perdoáveis.
Falando na direção, que pedrada. Tratando-se de um debute, é monumental. Porém, infeliz e inacreditavelmente, foi a única obra do diretor. Hoje em dia o filme é bastante desconhecido, até por ter sido perdido por décadas (aquela coisa de sempre), mas já é relativamente cultuado, às vezes até desproporcionalmente por cinéfilos bocós (aquela coisa de sempre).
E já antecipando, burros do jeito que vocês são, vou explicar a história em linhas gerais: a menina, filha do casal protagonista, é uma representação de uma espécie de "bruxa", que conjura seus poderes malignos a partir de eventos/pessoas que a incomodam. Ou seja: a menina da cena inicial, por ser sua rival e o seu pai, por faltar ao concerto, acabaram sendo vítimas. No caso, a essência do argumento é a seguinte: e se uma bruxa incorporasse em uma adolescente num contexto moderno e essa acabasse usufruindo dos seus poderes em situaões mesquinhas tipicamente vivenciadas por uma adolescente? Interessante né?

sábado, 13 de janeiro de 2024

Homebodies - 1974


Sinopse: Quando um grupo de tranquilos idosos tomam conhecimento que suas casas serão demolidas para dar lugar a blocos de apartamentos, eles decidem tomar uma atitude. O que começa como uma tentativa de desencorajar os empreiteiros, logo se torna algo bem mais violento...

Direção: Larry Yust

Elenco: Paula Truema, Peter Brocco, Frances Fuller, William Hansen, Ruth McDevittn





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Torrent + Legenda


Comentário: Algumas narrativas são atemporais, não adianta. Da mesma forma que "A Chave de Vidro" do Dashiel Hammett é um clássico da literatura noir e inspirou obras de qualidade em contextos totalmente diferentes, como Yojimbo, Por um Punhado de Dólares, O Último Matador (esse nem tão bom) e Ajuste Final, Homebodies não deixa de ser aquela suculenta clássica história de western do empoderamento do oprimido diante da ameaça de desapropriação em razão do avanço da ferrovia. A grande sacada desta vez é usar velhos, um elemento sempre interessante. Aliás, o fato de ser um grupo de velhos é muito coerente, pois facilita a justificativa de encorajamento — nós, brasileiros, entendemos bem o estrago que uma cambada de velhos fodidos unidos é capaz de fazer na frente de quartéis, por exemplo (no caso, estrago me refiro à imundice, no nosso caso).
Porééém, infelizmente, o deslize de Yust é muito insistente para se relevar, mas o fato é que os últimos 20 minutos do filme são totalmente desnecessários. Não justificam a obscuridade de Homebodies, é verdade, mas pesam. 
Aí você vai dizer que essa sinopse lembra do Aquarius — se é que alguém lembra de Aquarius hoje em dia. Mas se você lembrou, pense que é o Aquarius dirigido por alguém... mais esperto e espirituoso, ou menos brasileiro. Talvez espirituoso demais, pois Homebodies se perde aqui e ali no humor, mas o saldo proveitoso é muito maior. Filme diferentão e sagaz.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

The Exorcism - 1972

AKA

"Dead of Night: The Exorcism"

"The Exorcism by Don Taylor"

Sinopse:  casal burguês socialista convida casal de amigos burgueses socialistas para a Ceia de Natal na sua nova casa, uma cabana reformada no interior da Inglaterra. Uma série de eventos estranhos logo preocupa o grupo, que se força a aceitar que algo de sobrenatural se desencadeia na noite. Tem 50 minutinhos.

Direção: Don Taylor

Elenco: Anna Cropper, Sylvia Kay, Edward Petherbridge, Clive Swift



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>> Link direto + legenda

Observação: o release na verdade não é um release. Simplesmente peguei uma versão postada no youtube e baixei num daqueles sites gratuitos fuleiros. Então, se a imagem original já era cagada (nunca foi lançado fisicamente, pelo que li), piorou na compressão e tá arquivo direto porque tem míseros 95MB. E a legenda tá medonha, tem alguns trechos que tá em quatro linhas. MAS É EXCLUSIVA, DE NOVO, ENTÃO NÃO RECLAMA!

Comentário: Esse filme na verdade não é um filme. É um episódio de uma série de sete curtas de terror — o único a ter feito sucesso. E o exorcismo na verdade não é um exorcismo propriamente dito, ou popularmente estabelecido após o filme do Friedkin (que viria depois), tem lá uma possessão, mas é bem respeitosa e era isso. E quando eu disse que fez sucesso também era mentira. Ele se sobressaiu aos outros episódios — que eram obviamente medíocres — e hoje é relativamente cultuado, mas para por aí.
E o pior é que é bom mesmo. Dá inclusive uma tristeza ver um argumento bom, um texto tão bem escrito e interpretado se alongar por miseráveis 50 minutinhos.
Aprofundando mais essa sinopse aí... os casais têm um ar petulante inerente do burguês socialista  somado ao ar desagradável natural do sotaque e do biotipo (cara amassada) britânico, mas são simpáticos, até certo ponto. Ou talvez só lembrem aqueles amigos com discurso político afiado que todo mundo tem, mas que ninguém leva a sério (e não, não me refiro a você, leitor, você não é levado a sério porque tem quase 40 anos e ainda mora com a mãe).
Pelo menos o filme faz bom uso da ostentação intelectual que eles fazem questão de exibir: todo evento sobrenatural é sucedido de uma reflexão filosófica, social ou racional. Ou seja, não tem personagem abobado fazendo escândalo toda hora. Tudo é debatido de uma forma interessante e os próprios eventos são bem apresentados.
E pela produção visivelmente miserável, a atmosfera é muito sombria e elegante. Tem outro filme de casa assombrada postado no blog que esbanja sutileza e charme (aqui), mas nem se compara a esse, que consegue construir e reproduzir o medo apenas na reação e falas dos personagens, sem muito exibicionismo.
A conclusão pode ser duvidosa. Por ter um clima tão imponente, particularmente esperava uma explicação sobrenatural pragmática e esperta que fizesse jus ao todo. Mas acaba como um comentário político debochado. No final das contas, a casa é só a materialização do sonho de todo pobre em querer ver o burguês socialista tombado na própria hipocrisia.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Harry Chegou Para Ajudar (Harry, un ami qui vous veut du bien) - 2000


Sinopse: Num posto de beira de estrada, Michel (Laurent Lucas) é abordado por Harry (Sergi López), um homem de quem Michel não se lembra mas que afirma ser um velho colega de escola. Harry segue até onde Michel e sua família vão passar as férias e começa a se aproximar. Aí fica uma coisa estranha, se quiser saber assista.

Direção: Dominik Moll

Elenco: Laurent Lucas, Mathilde Seigner, Sergi López, Sophie Guillemin







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Comentário: A essa altura você já deve ter visto o 'Speak no Evil', filme de terror europeu de 2022 feito na medida pro leitor burro médio desse blog (se não viu, vá procurar em outro lugar, não é difícil achar). O "Harry..." tem uma premissa relativamente semelhante: dois casais se encontram aleatoriamente e se entrosam, permitem a aproximação íntima e a partir daí o negócio sai do controle gradativamente. O que muda é que enquanto o Speak no Evil enfatiza muito o constrangimento da coisa toda e o eventual choque, esse outro aí de nome esquisito vai só na maciota, na elegância. É o Speak no Evil se dirigido por um Hitchcock com um toque de viadagem francesa (calma, não precisa baixar tão rápido, foi só uma analogia). A cadência do ritmo é pura maestria de direção, nesse sentido lembra o Spoorloos (que você não deve ter assistido também porque não está na sua alçada intelectual).
Outro lance interessante é que na oposição total ao Speak no Evil, os personagens são racionais. O protagonista que não é o Harry é um cara que só parece abobado, mas é esperto e toma decisões lógicas. E metáfora sobre masculinidade é muito mais sofisticada.
E não tem nada de choque no final, seu ignorante. Na verdade é melhor você nem baixar. Vai embora daqui.

domingo, 3 de dezembro de 2023

A Maldição do Necrotério (The Boneyard) - 1991


Sinopse: Detetive convence uma sensitiva renovada a ajudá-lo a resolver uma série de crimes. Quando os dois vão a um necrotério examinar os corpos de algumas vítimas, ficam presos, junto com os funcionários, nos seus porões e são atacados por três crianças orientais vítimas de uma maldição (ou mais uma maldição, além de serem orientais) que as transformam em terríveis seres (piores do que orientais!).

Direção: James Cummins

Elenco: Deborah Rose, Denise Young, Ed Nelson, James Eustermann




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>> 720p:  Magnetic Link

Legenda

Mas quem é macho mesmo assiste essa versão podre com estética de VHS: https://www.youtube.com/watch?v=napUy3lHacw


Comentário: Por alguns detalhes The Boneyard não logra de maior reconhecimento. Um deles é o anacronismo: foi lançado tarde demais para conseguir sustentar seu clímax em animatônicos e cedo demais para se destacar com sua combinação de gore e humor. Também sofre de alguns problemas de condução, seu ritmo é irregular e as cenas movimentadas passam rápido demais.
Mas tudo de bom que poderia se pedir em pleno auge do VHS está ali: bastante sombra e textura carregada; elementos narrativos típicos, como protagonista detetive cansado e sidekick com poder paranormal (embora espertamente sutil, nesse caso) e atribuição de maldições a imigrantes.
Mas o maior destaque certamente são os efeitos e a maquiagem — as crianças mendiguinhas canibais ficaram ótimas.
Ah, e se você conhece esse filme provavelmente é por dois motivos: ou viu no SBT ou já viu essa famigerada capa abaixo. E apesar desse pôster suscitar uma tranqueira da década de 70 que ninguém teria paciência de ver, a aparição da criatura é digna! O poodle gigante zumbi é bem feito e a sequência é divertida. Diria, inclusive, que é o melhor uso de um poodle gigante da história do cinema (chupa Ang Lee, seu bosta).

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Long Live Life (Viva La Vie) - 1984

Sinopse: No auge da Guerra Fria, dois franceses que jamais se conheceram, um homem e uma mulher, acordam - aparentemente teleportados - no meio de um deserto, a milhares de quilômetros de suas casas. O mistério chama ainda mais a atenção do mundo quando ambos revelam que, gravados no seu inconsciente, está um ultimato de uma raça alienígena exigindo a eliminação do arsenal atômico do planeta. 

Direção: Claude Lelouch

Elenco: Charlotte Rampling
Michel Piccoli
Jean-Louis Trintignant
Evelyne Bouix
Charles Aznavour




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Comentário: Uma obscuridade curiosa, recheada com o melhor elenco que a França poderia oferecer. Começa daquele jeito francês de sempre, meio ressaca da novelle vague, meio lembrando a filmografia do Godard dos anos 80 (deus me livre), só que aí vai adentrando a ficção-científica apocalíptica e... bom, esse é um daqueles que depende exclusivamente do seu plot twist final (que é bem bolado), mas o leitor que não é retardado (eleitor do bolsonaro), vai sacar bem rápido porque um certo celebrado autor barbudo copiou o negócio de uma forma até chocante de tão descarada. Opa, os fãs do Zack Snyder podem antecipar o final também, então sim, esse é um filme acessível a todos, até os retardados.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

The Man Who Stole The Sun (Taiyô wo Nusunda Otoko) - 1979

Sinopse: Excêntrico professor escolar começa a construir em sua casa, secretamente, uma bomba atômica. Uma vez pronta, ele passa a se divertir chantageando o governo japonês com exigências esdrúxulas e banais. Aos poucos, seu comportamento se torna cada vez mais errático e imprevisível, o que leva um implacável detetive da polícia a caça-lo, mas seu maior inimigo é outro: a contaminação radioativa, que vagarosamente começa a se manifestar...

Direção: Kazuhiko Hasegawa

Elenco: Bunta Sugawara
Kenji Sawada
Kimiko Ikegami
Kazuo Kitamura
Shigeru Kôyama



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Comentário: Escrito pelo irmão menos católico do Shcrader, "O Homem Que Roubou o Sol", em bom português, é uma montanha-russa emocional. Cada estágio da trama tem, mesmo que não declaradamente, um tom e estilo distinto, quase como se fossem vários filmes costurados em um (ou um filme dirigido linearmente por múltiplos diretores). Termina de uma forma sangrenta, brutal e apocalíptica (útima cena memorável, diga-se), em nada lembrando o ato anterior onde o professor se diverte mantendo o mundo de refém, ao que também se seguiu à fabricação do artefato nuclear, aí sim, um autêntico filme de assalto (e com mais interesse na ciência, por exemplo, do que a também fabricação de uma bomba atômica no "Oppenheimer", pra citar algo contemporâneo). Essas mudanças às vezes são desconcertantes, e somando-se a isso certos maneirismos do cinema japonês que ocasionalmente nos parecem alienígenas (sem falar na duração, só meia hora a menos que o... "Oppenheimer"), fazem do "Homem..." uma experiência por vezes desafiadora, mas amplamente recompensadora. Não é o melhor filme já feito, mas há algo nele estranhamente memorável, daqueles que ficam na lembrança mesmo anos depois de terem sido vistos, mais duradouro até do que filmes objetivamente melhores... como o "Oppenheimer".

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Joe - Das Drogas à Morte (Joe) - 1970

 
Sinopse: Ao procurar sua filha, fugida de casa, o bem sucedido empresário Bill Compton confronta e acidentalmente mata o namorado da moça (um hippie sujo passa fome). O único a saber o autor do crime é Joe, um operário reaça baixa renda que se vale da informação para se aproximar de Bill.  Apesar de Bill acreditar que Joe irá chantageá-lo, Joe é na verdade movido por uma sincera admiração, e logo a amizade entre os dois ganha contornos perigosos.

Direção: John G. Avildsen

Elenco: Susan Sarandon
Dennis Patrick
Audrey Caire
Peter Boyle
K Callan 



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Comentario: "Táxi Driver" misturado com "O Pentelho". Essa espécie de comédia com tons de exploitation setentista assinada por Avildsen (do "Rocky" e também de muitas bostas) é um daqueles filmes que chocam porque todas as falas do personagem de Peter Boyle, um chão de fábrica fudido conservador e transbordando de raiva, o reflexo distorcido do working class hero, parecem extraídas diretamente do zap do seu tio. Mas não é dele que o filme ri; o foco da trama de "Joe" tem muito mais a ver com o personagem de Dennis Patrick: típico eleitor do PSDB, se vê como civilizado mas que vota no Bolsonaro sem pensar duas vezes porque "o PT não dá", que depois de um ato de violência é forçado a conviver com por entre as entranhas do populacho. O que a princípio faz única e exclusivamente para tentar suavizar a possibilidade de uma futura chantagem, logo se transforma em um autêntico laço fraterno que junta o pior em dois homens, e o patético de Bill ganha contornos mais claros quando se percebe que tudo parte da carência; em casa, ele perdeu todos os laços com sua família - em especial com sua filha, o debut de Susan Sarandon - mas é entre os pobretões que seus atos ganham respaldo e tornam-se fonte de orgulho.
    "Joe" é sobre a improvável amizade entre um membro da elite e um comedor de pão com leite condensado, e sobre como a relação entre ambos - e a subsequente crescente espiral de paranoia retroalimentada por ambos - os levará à consequências sangrentas (o clímax todo ao estilo Schrader se torna ainda mais engraçado por ser completamente grotesco e gratuito). É um filme constrangedor e divertido na medida certa, e até pode fazer pensar. Rolou na época a ideia de uma sequência onde o Joe, liberto de seu tempo de prisão (spoilers?) encara a vida com um olhar mais à esquerda, e é bom que não tenha sido feito apesar de promissor.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Jogos de Sangue (Blood Games) - 1990

Sinopse: Time feminino de softball disputa partida em cidadezinha tipo Nova Pádua, onde só mora bolsonarista. Aí é aquela coisa, os bolsonaristas, como é de se esperar, tentam violentar as moças, que revidam e o que segue é uma luta sangrenta em busca de sobrevivência.
 
Direção: Tanya Rosenberg
 
Elenco: Gregory Scott Cummins
Laura Albert
Lee Benton
Ross Hagen
George 'Buck' Flower





 
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Comentário: O rape revenge sempre foi o subgênero mais fácil de ser produzido pelos tranbiqueiros do audiovisual pelo fato de garantir notoriedade pelo shock value instantâneo ao mesmo tempo em que pode ser muito econômico (muito mais, por exemplo, do que seu slasher feijão com arroz). Na escala "I Spit On Your Grave" (que nunca postamos aqui mas que é sim o "Cidadão Kane" do esgoto), "Jogos de Sangue" se intersecta com o "Rituals" - ou seja, é acima de tudo um autêntico filme de sobrevivência, e um daqueles bons onde a tensão é constante, a violência perturbadora e o humor inexistente.
    O teor sexual é extremo e contraditório; a violência masculina é retratada de uma forma horripilante, grotesca mesmo quando comparada à seus predecessores. Simultaneamente, os corpos femininos são explorados e escancaradamente objetificados de forma tão erótica (tem até, por exemplo, insinuação lésbica no chuveiro com peitões - acoplados a belas atrizes - saltando na tela) que você pensaria, por um momento, estar vendo um filme italiano. Só que aí que está a pegadinha: "Jogos de Sangue" é assinado por uma mulher (inclusive, o único longa de Tanya Rosenberg, seja lá quem for), então ou essas contradições são conceitualmente intencionais ou tá liberado usufruir dessa sordidez sem culpa pois temos que valorizar nossas diretoras. 
    Ainda que pise com força no sexploitation, "Jogos de Sangue" é um filme curioso porque, sem qualquer pretensão, consegue empoderar de forma orgânica, humana e merecida suas personagens de forma muito mais convincente que qualquer uma dessas merdas politicamente corretas das Disneys da vida ao qual nós pobres homens estamos sendo submetidos. Também é, esteticamente, pertencente àquele curioso crepúsculo da década de 90, quando se diminuiam os excessos da década passada mas sem o barateamento técnico que estava prestes a chegar.

domingo, 5 de novembro de 2023

Mortos Que Matam (The Last Man on Earth) - 1964

Sinopse: É o "Eu sou a Lenda" só que com o Vincent Price (ou seja, melhor, porque o Smith sempre foi muito ruim).

Direção: Ubaldo Ragona

Elenco: Vincent Price
Franca Bettoia
Emma Danieli
Giacomo Rossi Stuart










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Comentário: A primeira adaptação do livro lá do Matheson, mesmo sendo uma italianagem picareta das grossas, é ainda sua melhor versão. A história parte do mesmo princípio: o Price, cientista, único imune a uma epidemia que transformou todo mundo em zumbi/vampiro/hippies albinos zoados (como na versão do Charlston Herston), durante o dia caça os infectados e procura uma cura, daí aparece a mulher do nada e etc etc. Como todo filme B italiano que se preze, o orçamento é zero e o Price é o único membro americano no elenco, enquanto o resto da produção inteira tenta desesperadamente convencer o espectador (e distribuidor) que trata-se de algo realizado em Hollywood. Como muito se fazia na Itália do pós-guerra, é adicionado aqui um componente político nem um pouco sutil: Price é o "último homem" num sentido de ser o último homem que goza de liberdade; a sociedade subterrânea que se formou entre os infectados, antes dos zumbis velocistas do Smith, tornou-se uma utopia fascista, na incansável busca pela eliminação do indivíduo. 
    "Mortos Que Matam" é um daqueles filmes pequenos que nos lembram do prazer de se assistir a um bom filme de fundo de quintal, que com seu arsenal de truques para driblar as limitações técnicas inspiram e reafirmam o cinema enquanto mágica. Não é preciso um orçamento bilionário para nos convencer de uma sociedade esvaziada, basta pagar uns trocados pro Price fazer monólogos em supermercados abandonados e ruas de manhã cedo que dá na mesma (até fica o alerta, porque o prazer da fruição ao ver esse filme será proporcional ao quanto o carisma do Price ressoa no espectador, já que ele representa 99% do que se vê em cena - mas o fã, como quem vos fala, é recompensado pelo glorioso final onde um Price com arpão atravessado na barriga grita com seus algozes, "EU SOU UM HOMEM"). Era um dos favoritos entre a filmografia do próprio Price e, se nada mais, serviu de inspiração direta pro "Noite dos Mortos Vivos", de acordo com o Romero em pessoa.

terça-feira, 31 de outubro de 2023

Vigília Paranormal (Ghostwatch) - 1992

Sinopse: Como parte de uma programação especial de Halloween, a BBC exibe um programa ao vivo, diretamente de uma casa tida como mal assombrada. Tudo muito bom, tudo muito divertido, até que o esperado acontece.

Direção: Lesley Manning

Elenco: Michael Parkinson
Sarah Greene
Mike Smith
Craig Charles
Gillian Bevan








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Comentário: O negócio é o seguinte: eu me caguei vendo isso. Literalmente. Fezes escorrendo, tive que chamar uma equipe pra lavar o sofá, uma vergonha. Não por causa da minha dieta rica em colesterol, enlatados e embutidos, mas sim porque "Ghostwatch" é genuinamente aterrorizante - e eu não sou o único a achar isso (digo à excelentíssima, que riu da minha cara enquanto eu assistia, mesmo tendo medo real do Freddy até hoje). Bastante controverso na época de sua exibição - que simula de forma impecável um programa ao vivo, em tempo real, de tal forma que se você perdesse a abertura com o disclaimer que se trata de uma ficção, acabaria num cenário tipo o "Guerra dos Mundos" do Welles -, teve sua reprise vetada pela direção da BBC graças à resposta negativa do público, que teve direito até a pelo menos um suicídio cuja carta de despedida citava nominalmente o especial como causa. Um estudo recente também concluiu que parte dos jovens, entre os 30 mil espectadores na sua exibição original, desenvolveram estresse pós-traumático. 
    Viadage dos britânicos à parte, o fato é que "Ghostwatch" é um exercício perfeitamente executado, se apropriando das melhores características analógicas de que dispõe o horror e usa para seu aproveitamento máximo; é muita encheção de linguiça pra pouca coisa, mas quando é a hora do vamos ver, os sustos não decepcionam. É um precursor assumido do "Bruxa de Blair" e de tudo que se seguiu, caído no esquecimento em parte pelas limitações do meio televisivo de então, em parte pela polêmica em que foi embalado, a mesma que paradoxalmente também assegurou seu legado.

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Short Eyes - 1977

Sinopse: Pedófilo branco e burguês é mandado para cadeia junto com um bando etnicamente diverso de assassinos e afins. Aí já viu né.

Direção: Robert M. Young

Elenco: Bruce Davison
José Pérez
Nathan George    
Don Blakely
Luis Guzmán









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Comentário: Isso daqui é tipo um episódio do "Oz" (que fez mais para manter a criançada longe da criminalidade do que qualquer campanha educacional chegou perto) dirigido pelo Altman. É adaptado de uma peça, por isso espere poucos cenários e muitos monólogos - apesar de um deles, onde o pedófilo fala abertamente de suas atrações (tipo o Bolsonaro falando das meninas venezuelanas, só que proferidos por uma pessoa que sabe ler, escrever e usar talheres) ser de cair o queixo -, mas a direção do Young emana uma energia pulp intensa que faz a balança pesar mais pra um exploitation maduro do que um dramalhão que mira no Oscar. Perde força no seu clímax, quando o que era uma jornada pelo inferno se converte em um dilema moral saído direto do "Consciências Mortas", mas "Short Eyes" é mais um daqueles filmes policiais sujos da década de 70 que não se fazem mais; dinâmico, ágil, direto ao ponto, com ambições artísticas elevadas mas sem comprometer o fator entretenimento no caminho.